sábado, 21 de abril de 2012

A DOSE CERTA



Olá amigos do Blog Cocktailparatodos, hoje vamos falar sobre um assunto que deixa duvidas na cabeça de muitas pessoas, porque o álcool causa diferentes reações em muitas pessoas mesmo que consumindo a mesma quantidade.



A dose certa
A ciência começa a desvendar por que a bebida, que destrói tanta gente, é capaz de ajudar, na dose certa, algumas pessoas a viver melhor.
Consumido sem cuidados, o álcool provoca reações inesperadas. Você já reparou que nas festas tem sempre alguém que bebe uma cerveja e dá vexame, enquanto outro entorna uma garrafa de vinho e fica só um pouco mais alegre? É difícil acreditar, mas apenas agora a ciência começa a entender como e por que a droga mais antiga da civilização suscita efeitos tão diferentes nos seres humanos.
São duas possíveis respostas. A primeira é genética. O psiquiatra Marc Schuckit, da Universidade da Califórnia, conduz uma pesquisa a respeito desde 1978. Ela mostra que os filhos de alcoólatras são os mais fortes candidatos ao alcoolismo. Mas a herança não pára por aí. Eles são também os que toleram melhor a bebida. "Só 5% dos descendentes de não-alcoólatras têm alta resistência ao álcool", disse Schuckit à SUPER. "Já quando um dos pais é alcoólatra, o número de resistentes sobe para 40%." Isso significa que não só a tendência ao vício, mas o tipo de reação ao álcool, pode estar inscrita no DNA. A segunda descoberta é bioquímica.
Os novos conhecimentos abrem o caminho para que cada um descubra qual a quantidade de álcool adequada para si. Várias pesquisas sugerem que, na medida certa, a bebida pode fazer bem. "O uso moderado do álcool traz uma série de benefícios físicos e psicossociais".

"O álcool é o que se chama de lubrificante social ideal",

"Sob seu efeito, os indivíduos interagem com os outros de uma forma gostosa, melhorando a qualidade da relação". Estudos realizados em mais de vinte países indicam que uma dose diária  para mulheres e duas para homens diminuem os riscos de doenças do coração. A ciência leva em conta ainda outros fatores positivos no consumo moderado, como a redução do estresse e a melhora do humor. A sabedoria está em separar a porção que alivia daquela que envenena.

Gosto não se discute. Herda-se
Se você fica tonto só de cheirar um copo com bebida alcoólica, alegre-se. A ciência mostra que gente capaz de tomar todas e estar inteira no dia seguinte é justamente a que corre mais risco de se tornar dependente.

A droga mais velha da humanidade
O álcool não é privilégio de nenhum povo sobre a Terra. Ao contrário, é considerado a única droga comum a todas as civilizações. A fabricação de vinho de uva começou provavelmente no período Neolítico, 8 500 anos antes de Cristo. Nas montanhas Zagros, no norte do Irã, uma equipe do Centro de Arqueologia Química da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, encontrou um jarro de 7 000 anos com capacidade para 9 litros de vinho.
Mais tarde, houve no delta do Rio Nilo uma pujante indústria vinícola, por volta de 2700 a.C. Beber vinho era um hábito tão comum que vários faraós foram enterrados com jarros, provavelmente na crença de que poderiam continuar tomando umas e outras depois da morte. A cerveja é um pouco mais recente. Aparece uns 1 500 anos antes de Cristo. Com um microscópio eletrônico, arqueólogos da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, descobriram que os egípcios usavam malte para produzir açúcar usado na fermentação. Em outras palavras: conheciam técnicas de cervejaria. Os egípcios obtinham seu malte a partir de cevada. Só que em vez de adicionar lúpulo, como se faz hoje, eles acrescentavam um tipo raro de trigo. Ao repetir a receita, os pesquisadores descobriram uma boa cerveja. Sem o amargo do lúpulo, a mistura ganhava um sabor doce e frutado. Era dourada, mas menos transparente que as atuais.
Vieram depois os destilados, que são mais fortes. Curiosamente, a técnica não foi desenvolvida para fazer bebidas. Proibidos de beber pelo islamismo, os árabes foram os primeiros a produzir álcool destilado para fabricar perfumes. Os europeus aprenderam com eles e no século XI já há registro de aguardentes na Itália.
Talvez nunca se saiba com certeza quando o homem começou a beber. Já no Gênese, o vinho aparece nas mãos de Noé. A novidade está em que, com os novos conhecimentos, a humanidade poderá começar a beber melhor. Em lugar de ser dominada por efeitos indesejáveis e imprevisíveis, terá a chance de usar o álcool na justa e moderadíssima proporção em que ele ajuda a viver melhor. Para isso, cada um precisará encontrar a dose certa e ficar nela.

Eles e elas
Em geral, os homens são mais resistentes à bebida do que as mulheres porque têm mais água no corpo, o que ajuda a diluir o álcool. Além disso, produzem em maior quantidade uma enzima que quebra as suas moléculas

Alegria, alegria
Com 1 ou 2 doses, a inibição vai desaparecendo. Acontece uma mudança sutil de estado de espírito: aquele problema aparentemente insolúvel já não parece tão terrível assim. Fica-se auto confiante.

Pé no breque
Depois de 3 doses, diminui a coordenação motora do indivíduo, que chega a derrubar o copo. A essa altura, ele também perde um pouco da capacidade de julgamento - isto é, de distinguir o certo do errado.

Fora-da-lei
Pela lei brasileira, quem tomou 3 doses, em média, não pode mais dirigir. O máximo permitido é 0,6 grama de álcool por litro de sangue. Isso equivale a cerca de duas doses de uísque.

Tarde demais
O papo que estava bom após o primeiro copo fica difícil após 4 doses. Isso acontece porque o cérebro tem dificuldade para funcionar. Essa quantia afronta não só o raciocínio como também as restrições sociais. É quando o tímido consegue passar cantadas impensáveis quando está sóbrio.

Sinal vermelho
A hora de parar já passou. Com 5 ou 6 doses, o álcool provoca danos à capacidade psicomotora. Andar torna-se uma tarefa difícil e penosa. As emoções ficam exageradas: chora-se por uma bobagem ou morre-se de rir com uma piada sem graça.




Zuzu mal
Com 7 a 8 doses, o indivíduo chega a fazer força para conversar direito, mas a fala sai arrastada. Para piorar, a vista fica embaçada. A coordenação motora e a capacidade de raciocínio são profundamente prejudicadas.

Vezes dois
Quem consegue chegar a 9 ou 10 doses passa a ver tudo dobrado. De pé, lembra um bebê que está aprendendo a andar. Tarefas simples como amarrar os sapatos ou assinar o cheque da conta é praticamente impossível. Perigo de explosões emocionais, como chamar um brutamontes para uma briga.

Sem censura
A partir de 11 doses, ocorre a perda total das inibições. É quando o bêbado fica "folgado". Em alguns casos, ele não entende o que se passa à sua volta.

Risco de morte
Se passar de 15 doses, pode entrar em estado de choque. Com mais de 25, a parte do cérebro responsável pela respiração ameaça falhar. Perigo de morte.

Acerte a medida

ChopeConcentração alcoólica: 8 graus
2 copos = 400 ml

Vinho
Concentração alcoólica: 11 graus
2 taças = 200 ml

Uísque
Concentração alcoólica: 43 graus
1 dose = 40 ml

Algo mais

Na História das civilizações, o álcool é valorizado. A palavra uísque vem do idioma gálico, no qual quer dizer água da vida.

Jovens brasileiros estão tomando todas

O jovem brasileiro anda bebendo demais. Um levantamento feito pelo Cebrid em dez capitais brasileiras com estudantes de primeiro e segundo graus indica isso. "A pesquisa aponta um aumento no consumo pesado, ou seja, cresceu o número de entrevistados que bebem mais de vinte vezes por mês", diz o psicobiólogo Ricardo Tabach. "Isso é preocupante", acrescenta. Segundo a pesquisadora Ana Regina Noto, também do Cebrid, a família não ajuda muito. "Um em cada três brasileiros prova álcool pela primeira vez na própria casa, quase sempre oferecido pelos pais", informa. Segundo ela, os refrigerantes foram praticamente abolidos nas festinhas de jovens.A cerveja rola solta e até alguns porres são tratados com a anuência e a condescendência dos pais, como se fossem algo normal.
Não são. "Isso acontece porque a sociedade não considera o álcool uma droga", diz ela. Outro problema é que se costuma achar que na juventude tudo é episódico e passageiro. Quando se trata de bebida, ocorre o contrário. Se um adulto leva de dez a quinze anos para se tornar um alcoólatra, um adolescente precisa apenas de seis meses a três anos para incorporar o vício. Além disso, o uso abusivo do álcool provoca problemas sociais. Segundo a pesquisa do Cebrid, o álcool está no sangue de sete em cada dez brasileiros mortos violentamente - de acidentes de carro a assassinatos.
Esses problemas são agravados pelo fato de a legislação ser pouco respeitada. Poucas coisas são tão fáceis de comprar no Brasil quanto álcool. Embora a venda seja proibida para menores de 18 anos, ninguém obedece à lei. A mesma pesquisa mostra que não chega a 1% o número de adolescentes que dizem "garçom, um chope" e não são atendidos.

Verdades e mentiras

Beber melhora o desempenho sexual.Mentira. A bebida aumenta o desejo, mas estraga o desempenho dos homens. É fato que o álcool diminui inibições, inclusive as sexuais. Mas também faz cair a produção do hormônio masculino, a testosterona.

Tomar café ou banho gelado ajuda a ficar sóbrio.
Mentira. É o fígado que metaboliza (transforma em outras substâncias) o álcool na corrente sanguínea. Nem café nem água gelada apressam o funcionamento dele.

Comer antes de beber, ou durante, diminui o efeito do álcool.
Verdade. Isso acontece porque a própria comida, quando encontra o álcool no estômago, absorve parte da substância. Evita que ele passe ao intestino delgado e, dali, chegue ao cérebro pela corrente sanguínea.

Misturar bebidas deixa o sujeito mais bêbado.
Mentira. O que deixa o indivíduo mais embriagado é a quantidade de álcool que ingeriu, não o tipo de bebida. Tomar bebidas de sabores diferentes, uma em seguida à outra, pode deixar o beberrão apenas mais enjoado porque os diferentes sabores geralmente não combinam. O cérebro não tem como saber se o álcool que chega a ele é de um licor ou de um uísque.

Mulher grávida não pode beber.
Verdade. O álcool causa vários danos ao feto: retardamento mental, anormalidades orgânicas e problemas de aprendizado no futuro. Mas não induz ao alcoolismo. Não se sabe exatamente a partir de qual quantidade de álcool esses efeitos nocivos aparecem. Por isso, o melhor é não arriscar.

Até onde vai o trago

1. Quando a bebida alcança o lobo frontal, surgem sensações agradáveis de relaxamento e alegria. O sujeito fica mais falante, sem prejuízo do raciocínio.
2. Ao atingir os lobos parietal e temporal começam os problemas. O sujeito é capaz de cometer um desatino, como cruzar um farol vermelho.

3. Se chegar ao lobo occipital, responsável pelo movimento e pela visão, torna difícil ficar em pé e andar direito. A vista embaça.

4. O cerebelo comanda os reflexos. Atingido pelo álcool, a coordenação motora fica gravemente prejudicada. O tronco encefálico dirige a respiração.

5. O álcool demora para afetar esta área, mas, quando chega, leva à inconsciência, ao coma, à insuficiência respiratória e cardíaca. Em geral, o corpo se defende e provoca desmaios para o sujeito parar de beber.

 Antigas receitas

Fermentação e destilação são as duas únicas receitas para se fabricar o álcool que pode ser bebido. Vinho e cerveja são produtos da fermentação, ou seja, a transformação de açúcar em álcool, usando microorganismos. Embora muito prática (quem faz todo o trabalho é uma levedura, a Saccharomyces cerevisiae), a fermentação padece de uma limitação natural. Seus produtos têm, no máximo, 14% de concentração alcoólica. Mais do que isso seria tóxico para a própria levedura. Quer dizer: as bebidas fermentadas são mais fraquinhas porque o bichinho não está a fim de cometer suicídio. A destilação começa com a fermentação de frutas ou grãos, como arroz. O passo seguinte é separar a água do álcool, já que os dois fervem a temperaturas diferentes. Aí, um aparelho recaptura o que evaporou e transforma o vapor, por esfriamento, em líquido de novo. O resultado pode ter concentração alcoólica de até 95%.

Para saber mais

Fontes: Universidade da Carolina do Norte (EUA) e Instituto Nacional de Alcoolismo e Abuso de Álcool dos EUA


O Tratamento do Alcoolismo, Griffth Edwards, Martins Fontes, São Paulo, 2000.

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